Eu, há dias tento lhe escrever algo
que pudesse se tornar incomum a tudo que conquistamos juntos. Há dias venho
tentando brincar com meus pronomes para que assim pudéssemos chegar noutro
lugar de nós, cujo valor está no que somos como um, sem mais ou menos do que
isto que nos pesa.
A alma tem seu peso e por isso tenho
me achado grande, a sua tem pesado mais em mim do que você pode imaginar.
Eu, por muito tempo estive fazendo
coisas que fossem afastando você de mim, para sempre, sem perceber de fato
tantas inúmeras coisas boas que eu estava jogando fora, ou guardando em alguma
das várias gavetas do meu criado mudo. Sem senha que me fizesse esperar o tempo
certo para ganhar acesso a essas coisas que não eram nossas.
Há dias venho ensaiando uma dança
descompassada tentando concluir os últimos detalhes para chegar até você e me
despedir, mas minha dança está sem ritmo e a coragem não me permite dizer nada
além de um “boa noite” antes de dormir.
Mas me falta a coragem porque eu não
quero ter essa coragem de deixar você ir, eu quero estar em paz, viver em paz e
ser a paz, mesmo quando o portão me trancar pra fora em um dia de chuva, mesmo
quando as louças estiverem sujas há duas semanas, mesmo quando o patrão não me
pagar no quinto dia útil ou até mesmo quando ele simplesmente disser que hoje
será o último dia.
Em outros tempos eu quero dar nome as
minhas gravidades e pichar meu quarto com sangue azul, me tatuar de nanquim e
beijar beija-flores, esmaltar os cílios e dilatar o coração. Os tempos são
outros e em outros tempos eu quero tudo do mais e um pouco mais para pronomear
você.
[casa comigo amanhã ou não nos
casamos nunca mais].
Eu e você!