Expresso o inexpressável, por isso é indefinido!


[expresso o inexpressável, por isso é indefinido]
Deixar no subentendido é a melhor forma de se dizer quem somos. O silêncio diz muito.
E se souberes de mim, por favor diga-me, tenho ocupado meu tempo em me libertar e viver.
Me entender/descrever agora, seria me retardar em alguns sentidos!

{Paula Nonato}

domingo, 23 de dezembro de 2012

Líquen


SEXTA-FEIRA

05:41 [ELE]: Oi! Hoje passei o dia inteiro de ressaca, como há muito não fazia. Foi um tanto inutilizado em se considerando o período da manhã. Quando, à tarde, consegui tomar coragem para deixar minha cama quieta e dar uma volta na casa, encontrei o compromisso que eu tinha marcado na semana passada sentado em um amplificador do Studio. Era o S. Ele é um sujeito bacana, de estatura baixa, cabelos cacheados e castanhos, óculos despojado, sorriso constante e uma boa cabeça para composições. Certa vez ele pegou o violão em uma roda que eu estava, antes que pedissem a terceira música, alguém foi enfático ao sugerir que ele tocasse uma música própria. Sem a vergonha que eu consideraria um tanto inerente, ele olhou pra mim, disse "Ré menor", e fez menção que o acompanhasse no outro violão. A música me surpreendeu e, bêbado de ocasião, não pude deixar de convidá-lo para gravá-la qualquer dia desses. Algumas semanas após o ocorrido, não pude deixar de olhar pra ele nas festas sem tocar no assunto. Quando a promessa começou a se tornar chata, decidimos uma data. Mas ressaca não tem data decidida e custou até eu conseguir de verdade começar a gravar a música hoje.
Interrompemos a gravação às 22:00 para um bom futebol. Mais uma vez às três da manhã para jantar. Agora ele acabou de ir embora com a primeira versão da música, ainda não editada e sem os detalhes de amanhã. A parte dele, que diz respeito ao violão e à voz, já foi terminada, eu fico com a edição e os detalhes finais. Amanhã S. vai para São Carlos.
Voltei para desligar o computador antes de dormir, mas antes verifiquei o e-mail com o costumeiro ar de ansiedade na parede do estômago na esperança de ter uma mensagem tua, tinha. Sorri. Te mandei um beijo que talvez demore algum tempo a chegar e comecei a escrever um pouco do meu dia para dar algumas voltas antes de te dizer que eu não consigo deixar de pensar que alguns dos teus textos parecem ter um diálogo direto comigo.
“Findo você porque já não posso pontilhar de inocência tua poesia!”
 Estou com saudade de uma conversa...
Beijos!


SÁBADO

00:56 [ELA]: Eu queria te ver. Permita-me? Por um instante, deixe-me toca-lo?
 Sem pressa, sem pausa, sem compromisso. Assim, sem mais!
01:10  Estive visitando uns parentes esse final de semana, desejando você comigo! Foi maravilhoso.
01:20  Você está por aí? Não, acho que não! Enfim, boa noite.
01:33 PS. Amo-te.

[O dia inteiro e nenhum e-mail, telefone, visita. Era como se ela estivesse falando sozinha, amando sozinha. Ela se prendia em outras tarefas, mas o pensamento era dele, e ele onde estava que não a procurava? Ela sabia que seria assim, aceitou que fosse assim, só não imaginava que seria intensamente dolorosa uma espera. Era simplesmente um ato de esperar a resposta de um e-mail.
Ele sentia saudade de uma conversa, mas deixava-a falando sozinha!].


SEGUNDA-FEIRA
05:39 [ELE]: Oi!! Parece que eu só consigo tempo pra mim mesmo às 5. Ou será meu momento mais corajoso? Quanto de coragem é preciso pra ficar só no quarto diante a magia de não fazer nada em conjunto? Uma hipócrita ideia nostálgica da casa que eu amei, sem meu tempo ter acabado ainda. Hoje foi um churrasco de despedida das pessoas da minha sala na faculdade. Pessoas que, em maioria, eu nem converso, nem tenho afinidade, nem quero, mas que juntos somos obrigados há celebrar esse tempo que nem passamos juntos de fato. Mas de qualquer jeito nos contamina com um pouco dessa poeira de nostalgia, perdição, indefinição, dúvida. Eu não te deixo falando sozinha. Ou pelo menos não faço por querer. Estou vivendo um pouco disso de últimos dias nessa cidade, últimos momentos com algumas pessoas, últimos amigos, últimas versões de um último ano de faculdade a se prolongar. Meus braços crescem, mas meus dedos parecem não querer abrir e eu rolo, sento, deito, dou a pata e me finjo de morto. To tentando festejar sem dinheiro o fim que não termina cedo. Eu gostaria de ser uma resposta sempre pronta, uma frase a te dizer quando estás sozinha, mas sou um pouco eu, egoísta e caloroso, abraçando o mar com uma concha morta perdida na praia.
Eu também gostaria de te ver, conversar contigo, tomar uma breja e rir um pouco. Quando te apeteceria? Como andas a vida? O que pensas e o que fazes?
Beijos!

21:26 [ELA]: Eu queria te ver hoje ...
22:17 Permita-me passar seus últimos dias nessa cidade na tua cama?

22:20 [ELE] Desculpa, mas você sabe que não será possível... Não podemos assim, por hora, só conversar?
22:24 [ELA]:  Desculpa!


[E quem se faz amante de mais uma história real?!  Não estaria louco se pudesse pensar uma coisa dessas? Talvez. Não seria novidade.  No último episódio teve certeza, ele se fazia amante! Sua dúvida era sobre a certeza que tinha. (Mais suspeitas que certezas ou não). O que atiçava sua mente agora era a ideia, não muito inédita, que fosse ele o vilão...].


TERÇA-FEIRA

15:35 [ELA]: Vou fazer de nosso "romance" um livro! OU apenas vou comportar algumas palavras sem sentido e acentuar paroxítonas e interrogar minhas duvidas. Eu queria ter que responder suas perguntas pessoalmente, mas não deu. Em breve conto como está minha vida, o que penso e o que ando fazendo... Em breve. Mas por hora, findo você porque já não posso pontilhar de inocência tua poesia! Beijos

15:36 Boa semana, e boa viagem de volta pra casa!

[Visualizada às 22:36. Nenhuma resposta!]

QUINTA-FEIRA

3:17 [ELA]: Na falta do que dizer, resolvi então falar um pouco de mim, do que penso, de como está a minha vida e o que tenho feito dela. Ou pelo menos tentar dizer...
Como pode perceber não tenho estado muito bem, acho que é um pouco da saudade que ainda me aperta, me agoniza. Acho também que é um pouco dos últimos acontecimentos. Você sabe que algumas coisas não estão como deveriam estar e enfim, acabo por me encontrar assim, sem rumo.
Estou bem aflita com a faculdade que pode estar por começar e isso ainda me mantém de pé, penso eu que seja mais ou menos assim, não sei, estou bêbada e não me encontro no perfeito estado de afirmar qualquer coisa. Rs
Ontem, depois que nos falamos dormi. Estou tão atormentada com esse nosso lance, no bom sentido é claro, que preciso esgotar qualquer força minha para simplesmente poder dormir. E se for definir loucura não me assustaria, não seria a primeira.
Cheguei a um estado que me permito vivenciar cada detalhe sem culpa, e juro, tenho desejado tanto você. Não sei como é estar do outro lado de uma situação como a nossa, aliás, sim, eu sei, mas casos são casos. Você se sente culpado?
Hoje acordei onze horas, almocei e fiquei esperando uma resposta sua, e até agora nada. Sai com um grande amigo, tomei umas brejas, fumei uns cigarros, falei de você. Mudamos o assunto e voltamos em você. Não quero que se assuste com isso, é só uma forma de expressar que gosto mesmo de você, mas que entendo o tempo que devemos ter. Assim, sem caos. Acho que eu seria uma retardada se não estivesse assim, tão... Tão surtada, se é que posso usar bem essa palavra. Estou gostando dessa experiência. Você me faz bem!
Enfim, aqui estou esperando por você com a mesma sensação de que está se tornando chato. Esperando pelo sim ou pelo não de te ver em breve. Mais uma madrugada. Estou aqui. Cansada. Bêbada! Desejando-te...
Não me deixe partir...
Gosto-te!! ... Desculpa. 

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