SEXTA-FEIRA
05:41 [ELE]: Oi! Hoje passei o
dia inteiro de ressaca, como há muito não fazia. Foi um tanto inutilizado em se
considerando o período da manhã. Quando, à tarde, consegui tomar coragem para
deixar minha cama quieta e dar uma volta na casa, encontrei o compromisso que
eu tinha marcado na semana passada sentado em um amplificador do Studio. Era o
S. Ele é um sujeito bacana, de estatura baixa, cabelos cacheados e castanhos,
óculos despojado, sorriso constante e uma boa cabeça para composições. Certa
vez ele pegou o violão em uma roda que eu estava, antes que pedissem a terceira
música, alguém foi enfático ao sugerir que ele tocasse uma música própria. Sem
a vergonha que eu consideraria um tanto inerente, ele olhou pra mim, disse
"Ré menor", e fez menção que o acompanhasse no outro violão. A música
me surpreendeu e, bêbado de ocasião, não pude deixar de convidá-lo para
gravá-la qualquer dia desses. Algumas semanas após o ocorrido, não pude deixar
de olhar pra ele nas festas sem tocar no assunto. Quando a promessa começou a
se tornar chata, decidimos uma data. Mas ressaca não tem data decidida e custou
até eu conseguir de verdade começar a gravar a música hoje.
Interrompemos a gravação às 22:00 para um bom futebol. Mais uma vez às
três da manhã para jantar. Agora ele acabou de ir embora com a primeira versão
da música, ainda não editada e sem os detalhes de amanhã. A parte dele, que diz
respeito ao violão e à voz, já foi terminada, eu fico com a edição e os
detalhes finais. Amanhã S. vai para São Carlos.
Voltei para desligar o computador antes de dormir, mas antes verifiquei
o e-mail com o costumeiro ar de ansiedade na parede do estômago na esperança de
ter uma mensagem tua, tinha. Sorri. Te mandei um beijo que talvez demore algum
tempo a chegar e comecei a escrever um pouco do meu dia para dar algumas voltas
antes de te dizer que eu não consigo deixar de pensar que alguns dos teus
textos parecem ter um diálogo direto comigo.
“Findo você porque já não posso pontilhar de inocência tua poesia!”
“Findo você porque já não posso pontilhar de inocência tua poesia!”
Estou com saudade de uma
conversa...
Beijos!
Beijos!
SÁBADO
00:56 [ELA]: Eu queria te ver. Permita-me? Por um
instante, deixe-me toca-lo?
Sem pressa, sem pausa, sem compromisso. Assim,
sem mais!
[O dia
inteiro e nenhum e-mail, telefone, visita. Era como se ela estivesse falando
sozinha, amando sozinha. Ela se prendia em outras tarefas, mas o pensamento era
dele, e ele onde estava que não a procurava? Ela sabia que seria assim, aceitou
que fosse assim, só não imaginava que seria intensamente dolorosa uma espera.
Era simplesmente um ato de esperar a resposta de um e-mail.
Ele
sentia saudade de uma conversa, mas deixava-a falando sozinha!].
SEGUNDA-FEIRA
05:39 [ELE]: Oi!! Parece que eu
só consigo tempo pra mim mesmo às 5. Ou será meu momento mais corajoso? Quanto
de coragem é preciso pra ficar só no quarto diante a magia de não fazer nada em
conjunto? Uma hipócrita ideia nostálgica da casa que eu amei, sem meu tempo ter
acabado ainda. Hoje foi um churrasco de despedida das pessoas da minha sala na
faculdade. Pessoas que, em maioria, eu nem converso, nem tenho afinidade, nem
quero, mas que juntos somos obrigados há celebrar esse tempo que nem passamos
juntos de fato. Mas de qualquer jeito nos contamina com um pouco dessa poeira de
nostalgia, perdição, indefinição, dúvida. Eu não te deixo falando sozinha. Ou
pelo menos não faço por querer. Estou vivendo um pouco disso de últimos dias
nessa cidade, últimos momentos com algumas pessoas, últimos amigos, últimas
versões de um último ano de faculdade a se prolongar. Meus braços crescem, mas
meus dedos parecem não querer abrir e eu rolo, sento, deito, dou a pata e me
finjo de morto. To tentando festejar sem dinheiro o fim que não termina cedo.
Eu gostaria de ser uma resposta sempre pronta, uma frase a te dizer quando estás
sozinha, mas sou um pouco eu, egoísta e caloroso, abraçando o mar com uma
concha morta perdida na praia.
Eu também gostaria de te ver, conversar contigo, tomar uma breja e rir
um pouco. Quando te apeteceria? Como andas a vida? O que pensas e o que fazes?
Beijos!
21:26 [ELA]: Eu queria te ver hoje
...
22:17 Permita-me passar seus
últimos dias nessa cidade na tua cama?
22:20 [ELE] Desculpa, mas você
sabe que não será possível... Não podemos assim, por hora, só conversar?
22:24 [ELA]: Desculpa!
[E quem se faz
amante de mais uma história real?! Não
estaria louco se pudesse pensar uma coisa dessas? Talvez. Não seria
novidade. No último episódio teve
certeza, ele se fazia amante! Sua dúvida era sobre a certeza que tinha. (Mais
suspeitas que certezas ou não). O que
atiçava sua mente agora era a ideia, não muito inédita, que fosse ele o
vilão...].
TERÇA-FEIRA
15:35 [ELA]: Vou fazer de nosso "romance" um livro! OU apenas
vou comportar algumas palavras sem sentido e acentuar paroxítonas e interrogar
minhas duvidas. Eu queria ter que responder suas perguntas pessoalmente, mas
não deu. Em breve conto como está minha vida, o que penso e o que ando
fazendo... Em breve. Mas por hora, findo você porque já não posso pontilhar de
inocência tua poesia! Beijos
[Visualizada às 22:36. Nenhuma
resposta!]
QUINTA-FEIRA
3:17 [ELA]: Na falta do que dizer, resolvi então falar um
pouco de mim, do que penso, de como está a minha vida e o que tenho feito dela.
Ou pelo menos tentar dizer...
Como pode perceber não tenho
estado muito bem, acho que é um pouco da saudade que ainda me aperta, me
agoniza. Acho também que é um pouco dos últimos acontecimentos. Você sabe que
algumas coisas não estão como deveriam estar e enfim, acabo por me encontrar
assim, sem rumo.
Estou bem aflita com a
faculdade que pode estar por começar e isso ainda me mantém de pé, penso eu que
seja mais ou menos assim, não sei, estou bêbada e não me encontro no perfeito
estado de afirmar qualquer coisa. Rs
Ontem, depois que nos
falamos dormi. Estou tão atormentada com esse nosso lance, no bom sentido é
claro, que preciso esgotar qualquer força minha para simplesmente poder dormir.
E se for definir loucura não me assustaria, não seria a primeira.
Cheguei a um estado que me
permito vivenciar cada detalhe sem culpa, e juro, tenho desejado tanto você.
Não sei como é estar do outro lado de uma situação como a nossa, aliás, sim, eu
sei, mas casos são casos. Você se sente culpado?
Hoje acordei onze horas,
almocei e fiquei esperando uma resposta sua, e até agora nada. Sai com um
grande amigo, tomei umas brejas, fumei uns cigarros, falei de você. Mudamos o
assunto e voltamos em você. Não quero que se assuste com isso, é só uma forma
de expressar que gosto mesmo de você, mas que entendo o tempo que devemos ter.
Assim, sem caos. Acho que eu seria uma retardada se não estivesse assim, tão...
Tão surtada, se é que posso usar bem essa palavra. Estou gostando dessa
experiência. Você me faz bem!
Enfim, aqui estou esperando
por você com a mesma sensação de que está se tornando chato. Esperando pelo sim
ou pelo não de te ver em breve. Mais uma madrugada. Estou aqui. Cansada.
Bêbada! Desejando-te...
Não me deixe partir...
Gosto-te!! ... Desculpa.
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